Lançado por Daniela Mercury há 30 anos, compositor baiano lança o segundo disco como cantor, quase duas décadas após o primeiro, ‘Uma coisa só’. Quito Ribeiro alinha dez músicas autorais no repertório de ‘Unguerrê’, álbum produzido por Domenico Lancellotti e Pedro Sá
Caroline Bittencourt / Divulgação
Capa do álbum ‘Unguerrê’, de Quito Ribeiro
Arte de Julio Dui
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Unguerrê
Artista: Quito Ribeiro
Cotação: ★ ★ ★
♪ Poucos associam o nome de Quito Ribeiro às aliciantes músicas Um passo à frente (2005) e Mais alguém (2007), lançadas em disco nas vozes das cantoras Gal Costa (1945 – 2022) e Roberta Sá, respectivamente. Pois Quito – cantor e compositor baiano, nascido em Salvador (BA), mas residente no Rio de Janeiro (RJ) desde os anos 1990 – é o parceiro letrista de Moreno Veloso nestas composições.
Em Meu novo Ilê (2015), os papéis se inverteram na parceria. É de Quito a melodia e é de Moreno a letra cantada pela mesma Roberta Sá no álbum Delírio (2015).
Meu novo Ilê aparece em registro instrumental, com ênfase no sopro dos metais, no segundo álbum de Quito Ribeiro, Unguerrê, no mundo a partir de hoje, 19 de setembro, em edição da YB Music.
Primeiro álbum do artista em 17 anos, Unguerrê sucede Uma coisa só (2007) e apresenta 10 faixas formatadas com produção musical de Domenico Lancellotti (bateria e MPC) e Pedro Sá (guitarra, baixo e violão).
Em que pese o título convidativo de uma das músicas, Pode entrar, parceria de Quito com Domenico, o álbum Unguerrê está longe de ser a porta mais adequada para o ouvinte entrar no universo do artista. Houve a intenção de desmontar as canções para reconstruí-las com improvisos e camadas em espécie de colagens.
Nesse sentido, as faixas Se fosse seria e Bob pai exemplificam a estética desviante deste disco que traz no recorrente coro feminino as vozes de Dora Morelenbaum, Tainá e Tori.
Para ouvintes mais refratários a experimentações, a audição do álbum Unguerrê deve começar por Folha, ijexá que põe em foco a cultura afro-brasileira do Candomblé.
Há também algum encanto no estilizado ijexá Nota de geladeira e na canção de amor Vai começar, música que batizou álbum lançado em 2020 pelo artista português Tomás Ferreira da Cunha, parceiro de Quito Ribeiro nesta música e também em Enredo, outra canção de amor, pautada pela leveza.
Destaque da safra regular do disco, Enredo surgiu com inspiração no cinema, mote do roteiro idealizado por Quito para o álbum Unguerrê.
O audiovisual também foi o ponto de partida para a criação de Aventura (Pequeno grande planeta), música inspirada pelos games jogados pelos filhos do artista. O arranjo embute sons evocativos desses jogos eletrônicos.
No fim do disco, Guerreiro Bonocô conta a história do personagem-título em gravação calcada em loop da guitarra de Pedro Sá. A história se passa em Salvador (BA), cenário de Domingo no Candeal (1994), música da parceria de Quito Ribeiro com o conterrâneo Lucas Santtana que há 30 anos apresentou Quito ao universo pop brasileiro em álbum da baiana Daniela Mercury, então no auge da popularidade.
Domingo no Candeal não está no disco, mas Salvador (BA) continua lá, na memória e nas levadas da música desse compositor ainda pautado pela baianidade. Só que são tantas as camadas sobrepostas no repertório autoral do álbum Unguerrê que a safra do bom compositor por vezes soa abafada entre improvisos e colagens.
Fonte: G1