DJ lançou ‘Astro’, álbum cheio de músicas com potencial para bombar nas redes. Trabalho soa deslocado em meio a bom momento de um pop mais experimental; veja análise do g1. g1 analisa ‘Astro’, novo álbum de Pedro Sampaio
O DJ e cantor carioca Pedro Sampaio lançou um álbum cheio de músicas com potencial para viralizar em vídeos de dancinha nas redes sociais. O desempenho dessas faixas nas paradas e no palco do Rock in Rio vai ajudar a responder uma pergunta que paira sobre os rumos do pop: esse estilo ainda faz sentido?
g1 analisa ‘Astro’, novo álbum de Pedro Sampaio no VÍDEO acima; assista
“Astro”, segundo trabalho de estúdio do artista, tem 15 músicas que não passam dos três minutos de duração. A maioria delas segue uma fórmula que se popularizou a partir da pandemia de Covid-19, quando redes sociais de vídeos curtos ganharam força no Brasil.
Naquele momento, seguindo uma tendência que já crescia no exterior, produtores passaram a incorporar no pop brasileiro a estética dos “desafios” do TikTok e do Instagram. Músicas ganharam batidas mais marcadas, que dão margem a todo tipo de movimento em frente à câmera do celular; compositores começaram a quebrar a cabeça para criar letras com potencial viralizável; coreografias se deslocaram para a parte superior do corpo, mais fácil de filmar.
Como nasce um hit no TikTok
Amanda Paes/G1
Pedro explorou todos esses elementos em hits como “Galopa” (2021), “No chão novinha” (2021) e “Dançarina” (2022). A receita que faz o DJ manter uma média de quase 10 milhões de ouvintes mensais no Spotify ainda inclui letras sobre sexo (sem exagerar na safadeza para conseguir tocar no rádio) e feats espertos com artistas em alta (a lista tem Anitta, Luísa Sonza, Marina Sena…).
Se fosse lançado dois ou três anos atrás, “Astro” seria só mais um álbum focado na diversão das redes, tentando (e conseguindo) seu lugar nas paradas. Mas, agora, ele soa um tanto deslocado no pop.
Pedro Sampaio em show no Lollapalooza 2023
Luiz Gabriel Franco/g1
A vez do pop alternativo
Acontece que 2024 se tornou o ano do pop alternativo. Billie Eilish, Charli XCX e Chappell Roan estão bombando nos charts com sons mais experimentais, diferentões.
No Brasil, alguns artistas acompanham o movimento, cada um ao seu modo: Anitta lançou um álbum de funk proibidão, com grife internacional e ao mesmo tempo conectado com o que toca nos bailes pelo país; Liniker fez seu “Caju”, um trabalho sofisticado de músicas bem trabalhadas (algumas com mais de sete minutos, algo muito incomum no pop); no funk, MC Hariel gravou “Funk Superação”, disco ao vivo que dá novas perspectivas ao ritmo.
Nesse cenário, o trabalho de Pedro Sampaio — mais preocupado em viralizar — chega carregado de passado.
“Astro” explora vertentes do funk carioca (especialmente o melody e o tamborzão dos anos 1990 e 2000), mas as batidas não vão além do básico. Também tem uma influência de pagodão baiano, mas parece não se entregar verdadeiramente a ela.
Capa do segundo álbum de Pedro Sampaio, ‘Astro’
Divulgação
A autobiográfica “Minha vida”, última faixa do disco, mostra o desejo do artista de experimentar um caminho mais intimista. Conhecido pelo uso de ferramentas para distorcer a voz em suas músicas, ele aparece pela primeira vez cantando de forma mais natural, acompanhado só de violão.
“Horas vazias, lugares lotados. Cada dia uma cama, vivendo de aplauso. Um Picasso com pincel, cada estante um troféu. É tão bom tocar o céu”, diz a letra. No balaio de sons dançantes do restante do “Astro”, a música não se encaixou.
De bom, o álbum tem um remix divertido do clássico do forró “Vai no cavalinho”. A música da década passada foi gravada por vários artistas e ajudou a criar o fenômeno Wesley Safadão.
Também é preciso confessar: no meio de frases picantes e refrãos viralizáveis, há algumas batidas realmente envolventes, que quase fazem o quadril se mexer sozinho. Criar música de festa é uma especialidade de Pedro. No final das contas, “Astro” é um disco sem novidades, mas que muita gente vai dançar por aí.
Fonte: G1