Game mais vendido do mundo alcançou sucesso ao apostar na criatividade de público jovem e acessibilidade: ‘simplicidade funciona a nosso favor’, diz diretora do jogo. Herobrine e outras lendas urbanas não são a única coisa assustadora de “Minecraft”. O game completa 15 anos nesta sexta-feira (17) como o mais vendido do mundo com mais de 300 milhões de unidades, presença em 20 plataformas que exigem diferentes sistemas, jogos derivados e, finalmente, um filme em produção.
Nada mal para um game que começou como um projeto pessoal de um desenvolvedor sueco em maio de 2009 – e que foi disponibilizado para o público apenas alguns dias depois.
“‘Minecraft’ é baseado no fundamento ‘jogue da maneira que você quer jogar’. Alguns querem lutar contra outros jogadores. Outros só querem construir”, explica Jens Bergensten em entrevista ao g1.
Conhecido pelos jogadores como “Jeb”, ele trabalha no desenvolvimento do game há 14 anos – “desde que éramos só ‘Notch’ (Markus Persson, o criador do jogo) e eu –, ele é o atual diretor de criação do estúdio, Mojang.
“A ideia é que pareça um velho amigo para o qual você sempre vai querer voltar, mesmo depois de um tempo longe.”
Desenvolvedores de ‘Minecraft’ falam sobre Herobrine e outras lendas urbanas do jogo
Com visual simples, baseado em blocos, “Minecraft” oferece aos jogadores mundos interativos nos quais eles podem construir, explorar e viver aventuras – sem a pressão de ameaças exageradas ou missões urgentes.
“A coisa mais importante de um jogo é que ele seja divertido. Se algo tem um visual super refinado, mas não tem mecânicas divertidas, ele não será divertido no longo prazo”, diz a diretora de jogo, Agnes Larsson.
“No caso de ‘Minecraft’, a simplicidade funciona a nosso favor. É importante ter visual simples e interações fáceis de entender, porque isso empodera os jogadores a serem criativos.”
O g1 publica esta semana uma série de reportagens sobre os 15 anos de “Minecraft”, suas lendas urbanas e sua origem sueca.
Era uma vez
Markus ‘Notch’ Persson, o criador do game ‘Minecraft’
Divulgação
Persson ainda trabalha para outros estúdios enquanto brincava com ideias próprias. Tanto que ele só foi largar o emprego para se dedicar de forma integral ao game mais de um ano depois, com o sucesso da fase de testes abertos alfa.
Depois de fundar o Mojang e evoluir os lançamento para a fase beta, contratou Bergensten e os dois passaram a trabalhar juntos na programação do game.
Em 2011, Notch passou a função de líder do jogo para Jeb. Três anos depois, vendeu o estúdio para a Microsoft por US$ 2,5 bilhões após perguntar no então Twitter se ninguém gostaria de comprá-lo e, então, deixou a empresa.
“[O processo de desenvolvimento] mudou muito. Quando eu comecei, só tínhamos uma edição e éramos só dois desenvolvedores. Então era muito ágil. Se tínhamos uma ideia, a gente podia pensar em alguma novidade na sexta-feira e na segunda já implementar no jogo”, conta Jeb, que desde 2014 se tornou o principal nome da equipe para o público (sua conta no X tem mais de 1,3 milhão de seguidores).
A coisa obviamente mudou com a expansão do game para outras plataformas – que exigem, por sua vez, diferentes sistemas de desenvolvimento. A equipe comemora que a versão principal do game (“Vanilla”) agora está em 20 delas, como consoles (de diferentes gerações), computadores e aparelhos móveis.
“Isso significa que precisamos de muito mais planejamento, para que o game funcione da mesma forma e as novidades sejam lançadas ao mesmo tempo. Para isso, a equipe precisa estar mais alinhada também.”
Jens Bergensten, Agnes Larsson e Asa Bredin, do estúdio Mojang, responsável por ‘Minecraft’
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Jogo de paciência
É preciso colocar as coisas sob perspectiva. “Minecraft” tem 15 anos, há planos feitos agora que podem levar um terço desse tempo para se tornarem realidade.
“Eu tenho reuniões sobre coisas que sinto que só vão se concretizar daqui três ou cinco anos. Isso é obviamente uma expectativa completamente diferente”, fala Bergensten.
“Nós definitivamente sabemos para onde estamos indo, mas o caminho até lá pode sempre mudar. Não é que adiamos as coisas de propósito”, diz Larsson.
“É que sabemos que queremos fazer tal coisa, mas, para isso, precisamos fazer esses passos antes ou então atualizar a plataforma para conseguir. São questões tecnológicas, mas também de design, porque com coisas muito grandes é preciso de etapas.”
O plano de domínio sobre as plataformas é reflexo da mentalidade de “Minecraft”, que busca sempre alcançar o maior número de pessoas possível. Tanto que grande parte dos jogadores acessa o game em seus celulares e tablets.
“Preciso pesquisar melhor, mas eles são mais acessíveis, então muitas pessoas jogam em dispositivos móveis, já que todo mundo tem um celular. Aparelhos mais caros, como consoles, têm menos usuários.”
O escritório do Mojang fica em uma antiga cervejaria em Estocolmo, na Suécia
Cesar Soto/g1
Por dentro do Mojang
Com cerca de 700 pessoas entre desenvolvedores, administradores de redes sociais, publicistas e outros cargos, o Mojang acomoda sua equipe em uma antiga cervejaria – que costumava ser a maior na Escandinávia – em Estocolmo, capital da Suécia.
Com cinco andares e uma visão para o Conselho Municipal da cidade, o prédio acomoda um máximo de 400 membros da equipe, mas diariamente a média é de 80 a 200 pessoas no local.
Em cada um dos pisos, baias para o trabalho sem escritórios – o que inclui a líder do estúdio – e espaços para relaxamento.
Um deles, com uma mesa para jogos de tabuleiro, tem um grande telão no teto que simula diferentes climas no estilo de “Minecraft”, para ajudar a ensolarar a vida de funcionários de outros países, que podem não estar tão acostumados aos longos e escuros invernos suecos.
“A ideia é que pessoas que gostem de trabalhar aqui, na equipe, podem fazer um jogo mais divertido”, explica Åsa Bredin, chefe do Mojang desde 2023.
Espaço de games e jogos para funcionários do Mojang
Cesar Soto/g1
Minecraft em filme
Com tanto sucesso, vieram games derivados como “Minecraft Dungeons” e “Minecraft Legends”, que levaram a proposta de criatividade e simplicidade para outros gêneros.
Em 2025, parece que finalmente o jogo vai conseguir ultrapassar a barreira também da mídia e ganhar um filme próprio, depois de mais de uma décadas de interesse de estúdios.
“Sempre procuramos novas oportunidades para oferecer formas para pessoas curtirem ‘Minecraft’. O momento pareceu certo. É uma colaboração com a Warner Bros. É um processo criativo junto com eles”, explica Bredin.
A obra vem na esteira do estrondoso sucesso de “Super Mario Bros. – O filme”, uma das maiores bilheterias de 2023 com quase US$ 1,4 bilhão em arrecadação.
Em comum, o ator Jack Black, que viveu o vilão no filme da Nintendo e agora assume o papel de Steve, o protagonista padrão de “Minecraft”. Ele se junta ao elenco liderado pelo astro de ação Jason Momoa (“Aquaman”).
Expansão cada vez maior entre plataformas, gêneros e mídias parece o plano para os próximos 15 anos – mas será que existe algo que nunca vai ser visto nos mundos de “Minecraft”?
“Qualquer coisa que o tornaria não apropriado para jovens jogadores”, responde Bredin.
‘Minecraft’ se tornou sucesso ao colocar jogadores em mundos com formas simples
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Fonte: G1